Uma Jornada de Superação

Arthur Sendas nasceu em Arapiraca, no interior de Alagoas, com acromatopsia — uma condição que causa incapacidade de ver cores, baixa visão e crises de enxaqueca. "Não consigo enxergar em profundidade, é como se fosse tudo em 2D. Se tem um buraco no meio da rua, não vou ver", explica Arthur.

As dificuldades eram constantes. Na escola, as pessoas achavam que ele tinha déficit de aprendizado, mas na verdade era porque as letras se sobrepunham. Por causa das enxaquecas, passava dias sem enxergar nada, o que o fez pensar em criar algo que pudesse usar sem precisar da visão — apenas com comando de voz ou orientação por som.

Durante a faculdade de tecnologia, Arthur criou seu TCC: um jogo para pessoas cegas. Ele percebeu que conseguia visualizar bem os templates dos jogos de computador, e a dinâmica de resolver partidas usando botões plantou a semente do que viria a ser a See U App.

Em 2013, com o surgimento do Google Glass, Arthur imaginou óculos de realidade virtual que detectariam obstáculos no caminho. Junto com Sérgio Gomes Júnior (colega de faculdade) e Jaqueline Sendas (engenheira e sua namorada, hoje esposa), construiu um protótipo e inscreveu o projeto em uma competição de startups em Portugal.

A aprovação foi uma surpresa. "Nunca imaginei ser aprovado. Vim do interior de Alagoas, de uma família bastante humilde, então era algo muito distante para mim." Sem recursos para viajar, não participaram do evento, mas a validação internacional os motivou a continuar.

Os óculos evoluíram, mas a bateria era um problema. Testaram colares, pulseiras, até chegarem a um crachá conectado a um app. Ainda não viam ali um negócio — era uma empreitada paralela aos trabalhos de cada um.

Tudo mudou em 2019, quando a mãe de Arthur faleceu de esclerose lateral amiotrófica. "Passei a refletir mais sobre o que eu estava fazendo e o porquê das coisas." A pandemia trouxe o momento de focar totalmente no projeto.

Em 2022, participaram do Startup Nordeste (Sebrae), recebendo mentorias e bolsa de 6 meses. Os três largaram seus empregos para se dedicar 100% ao negócio, conseguindo patrocínio de nuvem com Google, Microsoft e AWS.

Mas em outubro de 2023, o grupo sofreu um golpe devastador: Sérgio Gomes Júnior faleceu devido a distrofia muscular de Becker.

"Foi muito difícil. Ele era mais que um sócio, era um amigo." O projeto quase acabou ali. Mas Arthur e Jaqueline decidiram honrar a memória de Júnior continuando a missão.

Dois meses depois, em dezembro de 2023, Arthur sofreu um AVC hemorrágico aos 35 anos. Ficou 15 dias em coma. Os médicos não sabiam se sobreviveria ou se teria sequelas permanentes.

"Quase morri. E a empresa quase faliu." Durante 6 meses, a See U ficou parada enquanto Arthur se recuperava. Mas a resiliência falou mais alto.

Em 2024, Arthur e Jaqueline reconstruíram a empresa do zero. Pivotaram o modelo: de hardware (crachá) para software puro. O app agora usa ecolocalização,inteligência artificial e realidade virtual, funcionando em qualquer smartphone.

A ecolocalização traduz obstáculos através de sons espaciais, como um "sonar sintético". A IA interpreta o ambiente, lê placas e livros, descreve objetos e sugere rotas personalizadas. A realidade virtual permite treinar rotas em simulações antes de percorrê-las no mundo real.

Os primeiros 50 usuários testaram gratuitamente. O feedback foi transformador: pessoas conseguindo fazer coisas que nunca imaginaram ser possíveis.

Em 2025, a See U App foi reconhecida com o prêmio eAwards da NTT, validando nosso impacto e inovação em tecnologia assistiva.

"A palavra principal para a See U App é autonomia. E ter autonomia não é sobre não precisar de ajuda — isso todo mundo precisa. Mas é sobre a felicidade de conseguir fazer algo que você nunca imaginou que conseguiria."